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Trincheiras da guerra moderna

Desde sempre, seja na teoria de Platão ou na prática da China maoísta, o Estado ideal cria o cidadão ideal. Na criação do mundo novo é preciso matar o velho, e as crianças e jovens, mais novos do que o mundo que têm pela frente, oferecem possibilidade de tábua rasa. Num tempo de decadência cultural, hiperpolitização e polarização, a educação volta a ser campo de batalha. Como Gramsci avisou, a luta pelo poder trava-se não nas trincheiras físicas, mas na “superestrutura ideológica”. Na Virgínia, o tema decidiu eleições, mas valeu a pais mais zelosos acusações de “terrorismo doméstico”. Em Espanha, onde a educação pública é feudo do Podemos, a resistência tenta servir-se de mecanismos como o PINparental. No Reino Unido, pais muçulmanos forçam a retirada de determinados conteúdos.

Por cá, tudo chega com atraso, mas chega. E o que espanta é a solidão dos muito poucos que resistem ao Estado, que não protege crianças sinalizadas, mas que se acha no direito de anular o direito dos pais à educação dos filhos com base em estapafúrdia argumentação. Que aprova com quatro e cinco negativas, mas ameaça reter alunos de excelência por não se exporem a conteúdos puramente ideológicos e, em alguns casos, fracos ou descabidos. Que quer educar para a cidadania, mas faz braço-de-ferro com quem reivindica direitos fundamentais. A pobreza moral e cultural revela-se neste deserto em que, à direita por inércia e cobardia e, à esquerda, por determinação ideológica, se sacrifica quem nos dá, e aos nossos filhos, exemplo de responsabilidade e coragem cívicas.

Teresa Nogueira Pinto

Fonte: Jornal ONovo

https://onovo.pt/opiniao/trincheiras-da-guerra-moderna-JF11631989